terça-feira, 23 de agosto de 2011

Divórcio - Depende das circunstâncias...


Para refletir sobre o assunto do divórcio, proponho a leitura de Marcos 10.2-9: 10.2 - Alguns fariseus, querendo conseguir uma prova contra ele, perguntaram: - De acordo com a nossa Lei, um homem pode mandar a sua esposa embora? 10.3 - Jesus respondeu com esta pergunta: - O que foi que Moisés mandou? 10.4 - Eles responderam: - Moisés permitiu ao homem dar à sua esposa um documento de divórcio e mandá-la embora. 10.5 - Então Jesus disse: - Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês. 10.6 - Mas no começo, quando foram criadas todas as coisas, foi dito: "Deus os fez homem e mulher. 10.7 - Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, 10.8 - e os dois se tornam uma só pessoa." Assim, já não são duas pessoas, mas uma só. 10.9 - Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu.

Moisés escalou o Monte Sinai e ficou um bom tempo lá em cima. No seu retorno as suas palavras soaram mais ou menos assim: “Oi Pessoal! Tenho uma boa e uma má notícia para transmitir. A boa: Deus resumiu Sua vontade em apenas Dez Mandamentos. A má: O adultério continua sendo pecado.” (Oitavo Mandamento)

Trata-se de uma “piadinha”. De repente alguns homens, sentados à mesa de um bar, se divertam com ela. Não imagino que entre nós alguém ria da mesma, mas ela não deixa de ser “engraçadinha”. O fato é que a questão do “adultério” sempre ainda continua presente na vida das pessoas. Por quê isso é assim? Se prestarmos atenção, vamos perceber que há muitas pessoas afetadas por este problema (desejar a parceira ou o parceiro do próximo) no mundo. A imprensa sensacionalista está repleta desse tipo de notícias. Muitas pessoas leem jornais e revistas com o intuito de saber com quem a tal celebridade está vivendo; quanto tempo o tal artista já está casado com aquela outra; se este se separou daquele e vice-versa; quem já se casou pela quarta vez etc. etc. etc. Conversas pastorais (diálogos poimênicos) mais sérias mostram que as perguntas sobre “amor” e “separação” são muito comuns.

Quem de nós não tem amigos e parentes “quebrados” por causa de tais “experiências” que o Oitavo Mandamento propõe deixar de lado? Como viver uma vida a dois em equilíbrio? O que o homem e a mulher esperam ddo seus parceiros? O que é que pode satisfazer a ambos? Quais os ingredientes que uma parceria matrimonial precisa, para subsistir nos dias de hoje? Como é que nós poderíamos definir a fidelidade? Estas são apenas algumas perguntas que, hoje, mexem por demais conosco; preocupam as pessoas de forma muito pessoal.

Podemos nos divorciar?

Essa pergunta é feita pelos homens retratados no Evangelho de Marco. Estamos diante de uma pergunta “curta e grossa”, mas, ao mesmo tempo, envoltos na tentativa de uma resposta que não é simples de ser dada. Se um dia destes, nós, pessoas cristãs, estivermos sentados num ônibus coletivo e o passageiro que viaja ao nosso lado, nos perguntar se ele “pode se divorciar?”, o que é que responderemos? Uma pergunta tão pessoal nunca é fácil de ser respondida com um curto “sim” e ou com um pequeno “não”.

Observem que a sociedade encontrou uma resposta para esta pergunta que tanto anseia os cidadãos. Para ela o Oitavo Mandamento (“Tu não cometerás adultério”) é uma frase que está escrita na Bíblia, mas não no Código Penal. O Estado não vai atrás das razões; ele não mostra o mínimo interesse em saber o por quê esse ou aquele casamento terminou em divórcio. Basta aos cônjuges declararem que os seus votos de casamento estão quebrados e ponto final. Se não me falha a memória foi nos anos 70 que a lei do “princípio da culpa” foi substituída pela do “princípio da ruptura”. Noutras palavras: O Governo “não mete mais a colher em briga de marido e mulher”.

Mas e nós, a cristandade, vamos ficar fora dessa discussão? O que dizem os nossos amigos? O que pensam os nossos vizinhos sobre esse assunto? Não resta dúvida que o “adultério” e o “divórcio” continuam sendo questões muito sensíveis. Há casos em que uma condenação pública pode ser extremamente rápida, quando se trata da separação de um casal entra em crise. Nestes casos a culpa deste ou daquele cônjuge também fica claramente colocada. Quem é que vai se importar, se interessar por esta história? Quem já se envolveu mais de perto com casais que experimentam problemas conjugais; quem já pesquisou sobre este assunto, sabe que, muitas vezes, uma separação iminente pode ser revertida, mas que, também, tanto o “permanecer juntos” quanto o “afastar-se um do outro” tem seu preço. Preciso dizer que nunca presenciei respostas simples para casos como estes. Separação sempre foi e é grave “amputação”...

O que diz a Igreja?

Parece que a Igreja mantém uma certa distância desta discussão? Será que a Igreja deve respeitar as decisões que as pessoas fazem, de forma tão pessoal, em prol de si? A resposta para estas perguntas também são complicadas de serem dadas. Sim, porque o “adultério” e o “divórcio” ainda são vistos como um grande “tabu” em nossa Igreja. Se diz: “Não faça isto; não se separe!”, mas aí as pessoas envolvidas o fazem mesmo assim e se fica, como Igreja, meio que “sem pai e sem mãe”.

Todos devem ter conhecimento da crítica que se faz à Igreja Católica, que diz “não” ao divórcio e até exclui os divorciados da participação na Santa Ceia. Ela não dá nenhum sinal de misericórdia para quem se divorcia. Isso não acontece na Igreja Luterana porque ela não entende o “casamento” como um “sacramento” (um Ato instituído por Deus). Para a Igreja Luterana o “casamento” não passa de uma “bênção”. Isso quer dizer que também pessoas separadas de um primeiro vínculo matrimonial podem buscar nova “bênção de Deus” para sua nova relação, se assim o desejarem. Com esta postura a Igreja Luterana já se retirou dessa discussão há muito tempo.

Na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) é assim que as ministras e os ministros que se separam matrimonialmente, muitas vezes, são convidados a mudar de Paróquia; de Comunidade. Alguns até são “condenados” a entregarem o seu diploma de ministra ou ministro de volta à Igreja. Conheço colegas que abandonaram o seu ministério por causa da quebra do seu matrimônio. É óbvio que nos círculos eclesiásticos o divórcio é tratado como um fracasso que impede o exercício do ministério cristão.

Faz dois ou três anos que uma liderança muito positiva da Igreja Evangélica da Alemanha trouxe à luz a sua separação. Aquela mulher, certamente, teria tido muitas dificuldades para se eleger como a primeira porta-voz da Igreja Alemã, se tivesse anunciado seu divórcio antes da eleição. Hoje é assim que, depois de todo esse tempo, a decepção do povo para com ela já retrocedeu e ela pode, novamente, andar de cabeça bem erguida.

É assim que a maioria das pessoas que pertencem aos quadros de liderança da Igreja Luterana gostam de se colocar como pessoas esclarecidas; liberais; tolerantes. Mas essa postura é mais para consumo externo. O tema do “divórcio” continua sendo uma questão sensível que não tem resposta simples. Eis aí mais um motivo para voltarmos para a Bíblia e aprendermos como Jesus lidou com esta questão.

Um grupo de homens achegou-se perto de Jesus com o objetivo de questioná-lo. Esta aproximação rendeu um interessante debate. Senão vejamos: Os fariseus eram gente inteligente que conhecia a Palavra de Deus com muita precisão. Eles perguntaram “se um homem podia se divorciar de sua esposa”. Eis aí uma típica pergunta masculina. Mais do que isso, uma pergunta retórica. A Lei a respeito do “divórcio” estava clara no Livro de Deuteronômio onde se lê que o homem pode dar “carta de divórcio” à sua esposa: “Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, se ela não achar graça aos seus olhos, por haver ele encontrado nela coisa vergonhosa, far-lhe-á uma carta de divórcio e lha dará na mão, e a despedirá de sua casa.” (Deuteronômio 24.1)

Quer dizer: Não importa o que se pensa sobre o ato de separação de um casal: ele, o divórcio, era possível nos tempos do Antigo Testamento. Havia uma certa discordância entre os “letrados” da época a respeito da “razão” para fundamentar-se o tal “divórcio”. Para nós tem que ficar claro o porquê dessa discussão estar nas agendas da época. Nós, hoje, temos algumas informações a respeito do “divórcio” por que lemos; ouvimos falar; assistimos uma ou outra palestra. Naqueles tempos, entretanto, perguntava-se se uma “refeição queimada” já não seria uma boa razão para divorciar-se; se a “beleza mais vistosa” de outra mulher não poderia ser motivo suficiente para se requerer separação; e se a mulher cometesse “adultério” e blá, blá, blá... Temos aí três possibilidades de divórcio; três “fantasias masculinas”. As possíveis razões para que as mulheres se separassem de seus maridos não são contempladas no no 5° Livro da Bíblia (Deuteronômio).

Nos cabe levar em conta que nos tempos do Antigo Testamento as mulheres eram muito mais dependentes (economicamente) de seus maridos do que são hoje. Se olharmos à volta, perceberemos que nossas mães dependiam muito mais dos nossos pais do que as mulheres de hoje dependem de seus parceiros. Se um homem se divorciava de sua esposa, ela simplesmente estava na “rua da amargura”, no verdadeiro sentido da palavra.

Naquela época a mulher divorciada não tinha renda; não tinha casa e ficava sem qualquer segurança social. Foi dentro deste contexto que Jesus respondeu duas vezes, enquanto o interessante diálogo se desenvolvia. Jesus, inteligentemente, revida com outra pergunta: - “O que foi que Moisés mandou?” Melhor: “O que diz a Palavra de Deus a respeito”? Hoje se poderia dar uma gama de respostas a esta pergunta proferida por Jesus: “Que as pessoas devem amar a Deus e ao próximo como a si mesmas; que no casamento os cônjuges são chamados a se respeitar; a amar-se mutuamente; que os cônjuges devem levar a sério o Mandamento que lembra da fidelidade que deve existir no casamento; que a vontade de Deus não é separação; que um homem e uma mulher estão chamados a viver uma micro-comunidade; que um casal está sempre de novo chamado a se perdoar assim como Deus perdoou.” Sim, havia muitas possibilidades para se responder a esta pergunta sobre a vontade de Deus, no que tange à convivência do homem e da mulher.

Notem que os homens que estão rodeando Jesus nem estão interessados em saber qual é a vontade de Deus a respeito do divórcio. As suas perguntas estão focadas nas possibilidades que o “divórcio” lhes proporciona. Eles têm grande interesse em saber a respeita das vantagens que podem ter com o “divórcio”. Eles respondem: - “Moisés permitiu ao homem dar à sua esposa um documento de divórcio e mandá-la embora.” Então, Jesus responde novamente apontando, com insistência, para a vontade de Deus no tocante a este assunto. Ele diz: - “A possibilidade do divórcio existe somente porque Deus sabe como as pessoas podem falhar nos seus intentos.” (Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês.)

Com a resposta Jesus também lembra seus interlocutores que, na verdade, desde o início da Criação, Deus criou o homem e a mulher para se ajudarem; para cooperarem mutuamente um com o outro. Em outras palavras, Jesus está lhes dizendo que quem faz esse tipo de perguntas, não quer outra coisa do que saber como levar vantagens com o que reza a Lei. É como se Jesus lhes dissesse: - “Vocês estão deixando todas as bênçãos criadas por Deus para serem verdade numa relação matrimonial para trás, mesmo antes de se darem em casamento.”

A pergunta dos fariseus tinha sido sutil. Seus motivos para o divórcio eram “rasos” e, já que com o “divórcio” as mulheres acabavam sofrendo terríveis consequências sociais, Jesus vem ao encontro das mesmas com o objetivo de protegê-las em caso da “implosão” de seus matrimônios. Ele bate forte nos fariseus quando diz: - “Que ninguém separe o que Deus uniu.”

Neste início de novo século o Oitavo Mandamento e a forte Palavra proferida por Jesus parecem ter um “alcance limitado” na sociedade. Isso mesmo! Nestes dias, nenhuma mulher precisa preocupar-se com a possibilidade de cair em absoluta necessidade social, se o divórcio, porventura, acontecer na sua relação. O presente retrata as mulheres como autônomas. Elas trabalham de forma independente para não cair em desgraça. A possibilidade delas buscarem uma pensão alimentícia e bem-estar social está sempre aberta. Há foruns de aconselhamento matrimonial, etc... Isso quer dizer que neste momento as mulheres não precisam mais dessa proteção promovida pelas Palavras de Jesus. Assim sendo, a resposta de Jesus dada aos fariseus há dois mil anos atrás, hoje se mostra com “alcance limitado”.

A proibição do divórcio nem sempre é absoluta e, ao mesmo tempo, nem sempre válida. Onde o divórcio se solidifica em Lei e as pessoas o aceitam como tal, essa Palavra Bíblica de Jesus não tem como ser levada às últimas consequências. Sempre é assim que quando as pessoas se agarram à letra da Lei ou se elas só confiam em palavras do tipo “Mas Jesus disse...” elas têm muita chance de experimentarem que a vida é mesmo complicada e que o amor é mais complicado ainda. Ah se pudéssemos resolver todos os nossos problemas com frases curtas do tipo: “Tu não cometerás adultério” ou “O que Deus uniu, não o separe o homem”.

Notem que estas grandes questões podem ser respondidas de forma muito diferenciadas pelos casais. O que significa fidelidade? Quando é que a fidelidade se quebra? Quando é que um casamento é realmente “quebrado”? O divórcio é possível, talvez até útil, mas em que circunstâncias?

Outro dia um casal me disse, com todas as letras: “Pastor! No dia do nosso casamento nós decidimos que nunca, de forma nenhuma, eu ou a minha esposa sairemos sózinhos de casa. Onde um fôr, o outro vai junto.” Num primeiro momento nem entendi direito aquela história. Eles compartilharam que durante toda a vida sempre estiveram juntos; que nunca permitiram ao outro uma saída a sós com amigas ou com amigos. Pois fiquei matutando nestas palavras... Que pena! O fato é que o casal repartiu essa decisão comigo dando-me a entender que o simples ato de um deles sair a sós já seria um indício de infidelidade. De repente alguns de nós são capazes de se impressionar com esta informação, mas ela é verdadeira. Alguns casais estabelecem claros limites para a sua convivência e isso, já desde o início da sua relação. Será que são felizes assim?

Outro casal me disse: “Pastor! Queremos ser honestos com o senhor. Pode ser que um de nós venha a se apaixonar por outra pessoa. Nós dois acordamos que se isso acontecer, então logo abriremos “o jogo” um com o outro. Não queremos que nos aconteça como aconteceu com um casal do nosso círculo de amizade. Um deles tinha um caso fora do casamento já há três anos. Sua companheira não percebeu absolutamente nada do que se passava. Uma tal experiência nós não queremos para nós de jeito nenhum. Nós queremos ser sempre capazes de nos olharmos nos olhos.” O tempo da nossa conversa foi passando e, de repente, os dois foram me deixando claro que se acontecesse algum deslize de um ou outro, isso ainda não precisaria necessariamente ser o fim do seu relacionamento. Ainda lembro da fala da moça: “Se a gente ainda se ama verdadeiramente, então a gente ainda tem capacidade de se perdoar. A ferida poderá doer por muito tempo, e claro, o outro terá que dar um jeito de acabar com a segunda relação. Depois disso, tudo ainda é possível. Talvez esse possível deslize seja um sinal do começo de uma crise e ela, por tabela, seja útil para revigorar a nossa relação iniciada. Um ato desses não deveria ser razão suficiente para quebrar-se um pacto, uma benção matrimonial como a que fizemos.”

Entendo que o fator principal, dentro de uma relação seja a honestidade. Sempre de novo olhar dentro dos olhos do companheiro, passar seriedade no diálogo e, depois disso, recomeçar de novo. O conteúdo que esse casal repartiu comigo, outros já experimentaram. Esses, certamente cresceram para dentro da relação a dois que, em tese, até se tornou mais forte. Se acontecer "adultério" e o casamento não se quebrar por causa dele (existem casos assim) permanecerão cicatrizes. Estas precisarão ser “trabalhadas”. Volto a explicitar: Separação sempre é grave amputação, mas dá para se conviover com ela.

Nós convivemos com muitas pessoas mais experimentadas que, provavelmente, já experimentaram situações assim onde a honestidade foi a tônica dentro da relação. Uma senhora que já passa dos 80 anos se expressou com extrema clareza: “Antigamente as mulheres conseguiam permanecer em silêncio.” Quantas mulheres têm sofrido em silêncio? Se elas ficam em silêncio, o casamento perdura, mas será que podemos chamar uma tal relação de matrimônio? Será que existe uma relação em pé de igualdade? Será que existe respeito mútuo num lar assim?

Não cometerás adultério!

“O que Deus uniu, não o separe o homem” – disse Jesus. Muitas pessoas nunca param para pensar na possibilidade de levar estes imperativos a sério. Essas frases curtas, em muitos casos, só ajudam a se manterem “casamentos de fachada”. Elas até podem ser úteis, mas também podem levar ao vazio. Em si ter “um caso” não é bom nem ruim. Seria melhor se pudéssemos evitar algo assim, mas como lidar com tal crise. Isso é o que importa: como lidar com a crise! O mesmo vale para a separação: ela em si não é boa nem ruim. Aqui também vale a questão: Como é que que os trabalham esta “amputação” entre eles.

O homem e a mulher andam juntos em parceria? Eles são honestos e cuidadosos um com o outro? Eles têm respeito um pelo outro? Qual é a sua filosofia de vida? Como é que eles enfrentam suas crise? Como é que eles se comportam depois da crise? Ora, alguns casais ficam felizes que, depois de todo esse desgaste de “puxa pra cá e puxa pra lá”, eles finalmente encontram coragem para se separar. Nestes
casos a solução do problema foi o problema da solução. Quando chegam a um concenso, eles seguem seus caminhos separados um do outro. De repente as “frentes de batalha” estavam tão endurecidas que só a separação, uma nova vida, a nova liberdade tornou possível. Quem de nós condenaria uma atitude assim?

Conclusão

Enfim, a Palavra de Jesus não vai ao encontro daquilo que os fariseus esperavam ouvir. Da boca de Jesus eles queriam ouvir um parecer que justificasse as suas ações, nada mais. A resposta de Jesus vai no sentido de que o “casamento” é um vínculo para a vida; que o “casamento” não tem nada a ver com um “contrato” que se renova por mais um ano no caso de esquecimento de sua renovação. Maridos e esposas são desafiados a crescer juntos na busca da unidade - e não apenas estabelecer uma parceria de conveniência. É muito comum “contratos” desse tipo: A esposa se compromete a nunca deixar faltar “roupas limpas no armário” e, em contrapartida, o marido lhe garante um “rendimento seguro”. Ora, o casamento não é um “tubo de ensaio” onde, se algo der errado ou se a “coisa” não rolar bem como devia, se opte, sem mais delongas, pelo divórcio.

Minha esposa e eu decidimos casar depois de cinco longos anos de namoro e noivado. Éramos bem jovens. Quando tornamos essa notícia pública, muitos dos nossos parentes e amigos olhavam discretamente para a a barriga da minha noiva e se saiam mais ou menos assim: - “Ah! Vocês tem que se casar?” – “Não!” – respondíamos. – “Nós queremos casar!” – “Tudo bem! Se algo der errado, sempre se pode obter o divórcio” – diziam uns e outros. Não é bem assim. O divórcio não é da vontade de Deus. As pessoas que se dão em casamento e que tem tal idéia encravada em sua cabeça, já estão errando o seu caminho; já estão pisando em falso no que tange às perspectivas matrimoniais. É assim que quem verdadeiramente “embarca” no “barco” do casamento, esse alguém quer chegar a “outra margem”, custe o que custar.

O casamento é a vocação de fidelidade para toda a vida. Nós somos chamados a sermos fiéis para com o nosso cônjuge, assim como Deus se mostra fiel a nós. Já vimos que há situações em que este “barco do matrimônio” pode vir a naufragar. Há casos, em que há mais misericórdia na separação do que na manutenção da vida a dois. Os exemplos desses mais extremos podem ser lidos a partir da Lei “Maria da Penha”.. Foi por causa disso que, dentro do Seu Mandamento, Deus abriu a possibilidade do divórcio. Mas o que faz o povo de um modo geral? Eles se apóiam neste “último recurso” e fazem dessa “excessão” um hábito o que, a bem da verdade, fere os princípios de Deus. Não deveria ser assim, mas era e continua sendo desse jeito.

Os divórcios entre casais estão em alta na nossa sociedade. A internet está repleta de anúncios do tipo “Portal Divórcio - Fácil, Conveniente e Barato”. Quando esse tipo de assunto chega dessa forma aos ouvidos da geração que aí está, então dá para se entender muito bem quando a nossa juventude não vê mais nenhum sentido na “Instituição do Casamento”. Outro dia andei investindo um pouco do meu tempo nos motivos que levam casais a se diverciarem. Sabem um dos ítens que mais gera separações? É que nestes tempos, tanto os homens como as mulheres têm ambições de fazer “carreira”. Reza a estatística que qauanto mais forte fôr a orientação no sentido de uma carreira profissional, mais presente estará a vontade de se divorciar. Uma vez fazendo carreira, a pessoa se inclina para esse ou aquele desejo específico de consumo que, por sua vez, não bate com o desejo do parceiro. Como organizar as férias se um tem interesses “x” e outro “y”? Aqui as “farpas” também sobram para os assuntos da Igreja.

Se eu estou certo, então o grande problema para o excessivo número de separações matrimoniais dos nossos dias nem são as questões mais íntimas, mas a carreira; o consumo; a dificuldade financeira e o lazer. Em outras palavras, quanto mais o ser humano, seja homem ou mulher, carrega a intenção de realizar-se em si mesmo; a ganhar a vida à sua custa, tanto menor o papel que Deus desempenha na sua história de vida; tanto maior a probabilidade que seu casamento se desmorone.

Uma coisa é lógica: Um casamento que pretenda se pautar pela visão de Deus, não pode prescindir de Deus. Notem que errar é humano (errare humanum est). O casamento está para a figura geométrica de um triângulo onde, na ponta de cada base, está um dos cônjuges e, na ponta mais alta, Deus. À medida em que, na relação, os casais se aproximam um do outro, tantos mais próximos eles se achegam. Nós ilustramos esse relacionamento em uma cerimônia religiosa onde se dá a Bênção de Deus aos nubentes. Nessa hora, quase todas as ministras e todos os ministros colocam esta frase: “O que Deus uniu, não o separe o homem”.

Bom! Agora, como é que se pode dizer; como é que se pode ter certeza de que foi Deus quem uniu os dois nubentes? Pode ser que a decisão da união nem tenha passado pela vontade de Deus... De repente a idéia da união foi particular, deste ou daquele. Há um sem número de motivos para que duas pessoas se unam em matrimônio. Amigos que apostam entre si: - “Vou casar com aquela dona!” Pais que são contrários a uma relação e os filhos fazem de tudo para lhes “quebrar o bico”. Pânico pelo fato de não ter encontrado ninguém de quem se goste verdadeiramente e daí então: “uni du ni tê, salamê, mingu~e, um sorvete colorê, o escolhido foi você...” Três situações que apontam para escolha de qualquer uma; de qualquer um que aparecer. Casos claríssimos de que Deus não teve nada a ver com o “contrato”; com a “aliança”; com o “compromisso”.

No último mês andei meio de “olho” neste assunto que nos move (Divórcio). Li um pequeno artigo que, de certa forma, me chocou: A manchete dizia: “Em cada dez pessoas casadas, nove se sentem como a segunda opção do parceiro.” Quer dizer, nove cônjuges, em cada dez matrimônios, se sentem como sendo a segunda opção; a segunda pessoa a ser escolhida como “companheira de vida”. Elas afirmam que teriam passado pela “peneira” do parceiro, porque este não teria conseguido o intento de casar com a mulher ou com o homem dos seus sonhos. Uauuu! É assim que quase todos os que compõem este universo de 9% até se sentem “confortáveis” como sendo a “segunda escolha”. Para 12% dos homens, o dinheiro da companheira foi decisivo para sua tomada de decisão em optar pelo casamento. Somente 4% das mulheres acreditam que seus parceiros tomaram esta importante decisão pensando nos seus bens finaceiros. Quase dois terços das mulheres acreditam que suas qualidades sensuais foram levadas em conta na escolha. Pasmem! Apenas 43% dos homens confirmaram isso que os tais dois terços das mulheres pensam sobre o assunto. Ufa!

Meio assustador – não é mesmo? Estar junto com alguém e pensar: “Para ele eu sou apenas a segunda opção!”; “Ele não me ama, mas ama meu dinheiro!”; “Ele não gosta de mim, mas gosta do meu desempenho sexual!” O que acontece quando o amor ao dinheiro acaba? O que acontece quando o outro não sente mais tanta atração sexual? O que acontece quando, de repente, não se tem mais tanto desejo? O que acontece se a gravidez da companheira faz com que a mesma vomite muito e, por causa disso, a última coisa que ela deseja seja o é sexo? Opa! Mas foram justamente estes os motivos que levaram os dois a se casarem. Fundamentos deste nível são muito frágeis para manter-se um matrimônio de pé. Num caso desses a gente tem que começar a ficar amedrontado e até a desconfiar do parceiro: Será que ele não está navegando “noutras águas” para se saciar daquilo que nesta “fonte” já secou?

Penso que faz bem o casal que segue o modelo bíblico de esperar com a prática do sexo até depois do casamento. Se fizerem isso, esse problema que levantamos à pouco fica fora do “esquema” e, ao mesmo tempo, força uma decisão: - “Eu quero passar minha vida com este homem; com esta mulher ou não”? Pessoas que optam por tal caminho não correm o risco de se encontrar numa boate; de se acharem o supra-sumo da simpatia e, assim, de repente, se sentirem “enrolados de paixão”; sem quase nada de amor na “mochila” mas, como a solidão está presente, fazem a opção de “juntar os trapos”. Tudo acontece meio que de improviso e “segue o baile”... Até quando?

Nestes casos, não seria uma má idéia perguntar a Deus sobre o que Ele “entende” a respeito desta decisão: - “Deus, essa pessoa que Tu colocas na minha frente é a mulher; é o homem que Tu planejaste para mim ou não?” As vezes eu olho para trás e fico feliz que minha esposa e eu nos conhecemos num Grupo de Juventude Evangélica. Quantas e quantas vezes nós participamos de Grupos dentro da Igreja. Aqui e ali íamos juntos a Retiros Espirituais. Um dia, chegamos à conclusão que Deus nos tinha destinado um para o outro. Conhecer-se antes de casar sempre é boa pedida. Claro que não há garantias de que o nosso casamento, em algum momento, não venha a “naufragar”. Pessoas sempre são pessoas e como tais cometem erros. Confiamos que Deus nos carrega. Nos casamos com a firme convicção de que o nosso “sim” foi um “sim” válido até o final de nossa vida. Deus nunca quer nos presentear com a “prisão perpétua”, mas com bom relacionamento ao longo da vida para que, na velhice, possamos dizer: - “Na verdade o nosso relacionamento tem se tornado mais bonito, a cada dia que passa”.

Vale à pena lutar por este objetivo. Mesmo que a gente tenha a sensação de ter cometido um erro, quando vêm pensamentos do tipo: - “Nós dois nunca poderíamos ter dado este passo – agora é tarde!” Quando ofertamos a nossa relação a Deus e pedimos para que Ele cuide da mesma; quando oramos pelo nosso parceiro, então Deus é capaz de mudar algumas situações difíceis – assim cremos. Se permitirmos que Jesus encontre espaços na nossa vida, muitas coisas podem mudar.

Podemos divorciar-nos? Essa pergunta não é correta. Como cristãos, nós estamos aí uns para os outros quando alguém tem que tomar decisões de “sofrer divórcio”. Que Deus, o Senhor, amoleça os nossos corações por vezes tão duros; que Ele nos abra para a possibilidade do amor presenteado. Sua paz sempre se mostra maior do que a nossa razão. Deus nos dê felicidade e perdão através de Jesus Cristo nosso Senhor.

Um comentário:

Elemer Kroeger disse...

Muitas vezes vale mais uma decisão acertada num divórcio, do que a manutenção de um "casamento" errado.
Li o seu texto com muita atenção.
Faltou, ou eu não encontrei no texto, quantas vezes é facultado o número de divórcios e novos casamentos.
Seria uma única vez? Ou dez vezes?
Entendo a dificuldade de se pregar uma verdade, em assunto tão complexo, onde a humanidade caminha de acordo com seus propósitos. Quem poderá julgar, senão Deus? E esse Deus a quem nós adoramos, como se apresenta para os agnósticos?
Sempre é bom ler e pensar sobre temas complexos, que exigem raciocínio e discernimento.